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Caminho da Fé: Mais do que um desafio, um eterno aprendizado



1º DIA Começa uma grande jornada de determinação, foco e fé, por meio de uma bike e sozinho, desfrutando as belezas e encantos de SP e do sul de Minas, até o destino final em Aparecida/SP, a partir de Águas da Prata/SP, local originalmente onde nasceu o "Caminho da Fé". O início do caminho, depois de quase 13 longas horas de viagem de ônibus (lembro que o motorista da viação Cometa desejou muita fé no meu caminho...).


No dia anterior ao da viagem (ansiedade a mil), preparei o básico, mas mesmo assim percebi que "sempre levamos mais do que precisamos, enquanto peregrinos"...

Em Águas da Prata um colega chamado José Ricardo é o que chamo de "anjo". Ele veio do município vizinho de São João da Boa Vista/SP para me recepcionar na rodoviária, ajudar a montar minhas coisas e me levar na associação do peregrino, local este que credencia para iniciar a viagem, na presença de “Tina”, responsável pela associação dos amigos do CF. Uma pessoa simpática e especial.


E assim fui eu rumo a Andradas/SP, próximo das 10 da manhã já iniciando o pedal e ao fundo Águas da Prata ficando para trás. Já no 1º quilometro a estrada de terra (aqui ainda light) e bora pedalar!

O início do caminho já possui uma enorme subida, rumo ao Pico do Gavião, na divisa dos estados de SP e MG (uma bela serra, mas um ótimo desafio para o 1º dia..rs), com muita lama, poça d'água, cascalho, pontes de madeira). Já na descida para Andradas/MG, encontro um peregrino que já havia contatado pela rede social, de Brasília/DF. Isso é bom, sempre encontra alguém no caminho. Cheguei em Andradas/MG, carimbei minha credencial no hotel e fui almoçar, porque depois iria pedalar um pouco mais. Aliás, um ótimo PF (prato feito) a R$ 10,00. Tomei 2 copos de água bem gelados e aproveitei e enchi as 2 garrafas de água da bike (a melhor bebida que poderia existir!). Um imprevisto! Meu celular não estava carregando e precisei comprar outra bateria no centro da cidade; resolvido isto fui eu saindo em direção a Serra dos Lima/MG, existem alguns trechos curtos de asfalto, porque senão ninguém sobe. Nestas horas eu já estava bem cansado, pois cheguei de viagem e já fui pedalar e o sol estava pegando!


E a estrada molhada com a bike grudada..rsrs. Haja perna na subida e empurrão também! Num determinado trecho de subida, parei em uma gruta com bica d'água para me refrescar um pouco. Por fim,cheguei na pousada da D. Natalina, um local bem recomendado por quem já passou. Uma pena que não tive oportunidade de conhecê-la, pois justamente ela estava peregrinando à pé o caminho, mas fui muito bem recepcionado por sua filha e demais parentes. Dei um banho na bike para tirar o excesso de lama, lubrifiquei-a, tomei meu banho, descansei um pouco ao final da tarde, jantei muito bem e uma cama aconchegante depois de um dia de pedal pelo caminho....


2º DIA Sai cedo, por volta das 7h00, já com subidas e pouca neblina, seguindo rumo a Barra/MG. Como a época é de chuvas (mês de Março), a condição em alguns pontos da estrada estavam precários. Bora estrada adiante, com muito barro e trilhas erosivas (parece que a distância aumenta!). Muitas vezes precisei levantar a bike e pular até quase 1/2 metro nos buracos ocasionados pelas chuvas

Mais um pouco já avistando Crisólia (distrito de Ouro Fino), onde carimbei no Bar da Zeth e comi uma deliciosa pururuca; logo mais com a emoção de chegar em Ouro Fino/MG, cidade do "menino da porteira". Dei uma parada no centro da cidade por conta da chuva e aproveitei e carimbei a credencial no hotel e parti com minha capa de chuva rumo a Inconfidentes/MG, para uma parada tradicional no bar do Sr. Mauro e provando a cerveja do peregrino (muito boa!), acompanhada de 2 pastéis e coca-cola.


Seguindo rumo a Borda da Mata/MG, encontrei uma peregrina a pé com carro de apoio (estavam revezando no CF e eram de Mirassol e S.J.Rio Preto/SP). Novamente a condição de alguns pontos críticos da estrada, deparei-me com a cheia dos rios (passei em um ponto com a água acima dos joelhos - pura aventura!) já na chegada a Borda da Mata/MG, onde joguei uma água na bike e guardei-a no estacionamento do hotel, além de lavar minhas roupas... faz parte da peregrinação!

3º DIA

E bora para mais um dia... Foi interessante o café da manhã antes de partir, porque conversei com um grupo de motociclistas de Vargem Grande do Sul/SP que fazem trilha do CF em 2 dias e deram dicas sobre o caminho.

No meio do caminho uma ponte quebrada. Precisei desviar por outra estrada de terra paralela e pegar um trecho de asfalto com muitas subidas, aliás é o que não falta por lá...rs


Já em Tocos do Moji/MG, carimbei a credencial, tomei um pouco de água e fui rumo a Estiva/MG. Na saída de Tocos, já sabia que a serra para Estiva ia ser daquelas!!! E bora subir, cainhando e pedalando, ainda encontrei duas colegas peregrinas a pé, de São Paulo.

Chegando em Estiva/MG, na pousada do Poka (da D. Zezé), bem aconchegante. Coincidentemente, estava tendo neste dia um encontro de cavaleiros, muito bacana! E para completar, sempre é bom conhecer pessoas, o sr. João da cidade tem 87 anos e fez a pé o CF por 6 vezes, sendo a última vez com 80 anos! Uma pessoa simpática e atenciosa. Fui até tomar café da tarde com bolo em sua casa. Senti uma paz interior, feliz por estar lá naquele momento. O sr João ainda me disse: "Saúde é a melhor riqueza que temos". E bora em frente...

4º DIA

Bora lá para mais um dia de CF, já ultrapassando a metade do trecho. A altimetria promete neste dia. Saindo de Estiva/MG, cruzo o viaduto da Rod. Fernão Dias, que liga SP a BH, rumo a Consolação/MG com a minha companheira bike para credenciar na pousada "Casarão", onde tomei bastante água e prossegui adiante, entrando no asfalto e logo voltando a terra, rumo à estrada para Paraisópolis/MG, um pouco mais tranquilo a altimetria, até chegar próximo da cidade, com muita lama preta.


Parei para pousar na "Pousada da Praça", muito boa. Inclusive pela simpatia de Jandira, que atende a todos peregrinos. Tem até cajado para venda. Um ambiente muito agradável, que foi oriundo do primeiro imóvel registrado no município, de 1885 (preservou-se grande parte da construção original). E em Paraisópolis/MG provei o famoso pão de linguiça, muito bom, acompanhado do refrigerante JF, de Ouro Fino, recomendo!

5º DIA

Este dia o pedal foi mais curto, devido a não forçar distâncias para outros municípios, considerando dias pedalados, sol, chuva repentina, serras, etc. No início é um trecho relativamente tranquilo, com lindas paisagens na divisa entre SP e MG. Interessante que passo por uma placa refere-se a um município do interior paulista (São Bento do Sapucaí/SP), mas logo prossigo e entro novamente nas Minas Gerais. Uma parada no bairro Cantagalo; lembro que aqui completei 200 k do percurso, que alegria! A vila de Cantagalo com suas pousadas. Até ganhei uma limonada geladinha do Sr. Valter, muito atencioso!


Logo mais, começaram subidas e descidas até avistar-se o distrito de Luminosa, pertencente ao município de Paraisópolis/MG. Conheci uns mestres de oficina que me auxiliaram na pastilha de freio traseiro da bike, que havia entortado com pedras ao longo do caminho, faz parte! Já saindo de Luminosa, em direção a serra que dá ao nome do distrito, direcionei-me para a pousada da D. Inês. Uma pousada familiar aconchegante; confesso que foi a mais calorosa que senti, uma paz interior... Como foi bom conversar com a D. Inês! Além da comida caseira e do famoso doce de banana e uma broa de fubá enrolada em folha de bananeira, uma delícia!!!

Conheci alguns peregrinos a pé durante o caminho (Celso, Osmir e Célia), além do simpático casal Sr. José e D. Inês.

6º DIA

Mais um dia de pedal curto, porém desgastante, quase na etapa final! Neste dia resolvi sair empurrando a bike por uns 9 km, por conta de muito barro, cascalhos e subidas daquelas da famosa serra da Luminosa, além de ter o prazer de conversar e compartilhar reflexões com o peregrino Celso que já havia conhecido desde Paraisópolis. Confesso que empurrar a bike com 20 quilos não é tão fácil assim.

Faltando pouco mais de 100 k para a casa de Nossa Sra. Aparecida, cheguei na divisa de Estados, com a demarcação para Campos do Jordão/SP Daqui pra frente um pouco de asfalto até Campista (distrito de Campos do Jordão)

Resolvi então parar para dormir e curtir a cidade, na pousada do peregrino em Campos do Jordão (fica no bairro Jaguaribe).

7º DIA (METADE DO DIA) Este foi o dia da conclusão do Caminho da Fé... Agora só no asfalto, com descidas da serra da Mantiqueira! Bora descer a serra, a 45 km/hora, de boa, com um pouco de neblina durante o percurso. Já no Vale do Paraíba, em Pindamonhangaba/SP, parei apenas para tomar água e credenciar e segui rumo a Roseira/SP. Finalmente, chegando em Aparecida/SP, uma emoção tomou conta quando avistei de longe a basílica nacional de Aparecida. Na chegada à secretaria da basílica, entreguei o cartão de carimbos para comprovação do caminho da fé e a retirada do certificado de peregrino, estando feliz por isso. "Missão dada é missão cumprida".


Fiz alguns pedidos de oração e agradeci por estar aqui bem, com a graça de Deus e Nossa Sra. Em seguida, fui tomar banho na sala dos motoristas (R$ 2,00, com direito a toalha e sabonete), ajustei as bagagens e fui rumo à rodoviária para retornar à minha família! Muita emoção, depois de 316 k rodados em 6 dias e meio!!!

Concluindo, muitas coisas aprendi: levar o mínimo necessário para a peregrinação (lava-se a roupa do dia); deve ser feliz com o pouco que se tem e ter paz diante das diferentes situações; cada um tem um propósito de fazer este CF, não necessariamente para pagar promessa, mas também como forma de superação, foco, determinação e principalmente fé!

Por fim, mesmo eu concluindo sozinho de bike todo o percurso, nunca me senti sozinho... Um grande abraço a todos.

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